2009/07/11

Glória de escritor
segurou por horas a fio a página em branco. fez uma cara de tristeza e impotência.
pegou a carteira e olhou se os trocados davam pra comprar um vinho barato. vestiu uma camisa velha que lhe dava sorte. aumentou o volume do som e saiu. foi até o mercadinho da esquina. olhou a cara do dono. um cretino. todos sabiam, ele mesmo devia saber que era um cretino e possivelmente se regozijava por isso. não disse nada. pôs sobre o balcão uma garrafa de vinho e pediu uma carteira de cigarro.
- vai ter festa? perguntou o cretino.
- todo dia é festa, mas só quem tá vivo sabe disso.
- é?
- é
pagou e saiu. voltou. pediu o fósforo e acendeu o cigarro dentro do mercadinho, só pra sacanear o cretino. voltou pra casa. acendeu as luzes, tirou as roupas. transitou nu pela casa.
Todo mundo devia andar nu, disse a si mesmo.
encheu um copo. acendeu outro cigarro. amassou a página em branco. pegou um exemplar de Numa Fria, do Bukowski.
abriu e folheou. começou a ler um conto...
"Esse era o problema de ser escritor, o problema principal - ócio, ócio demais. A gente tinha de esperar que a coisa crescesse até poder escrever, e enquanto esperava ficava doido, e enquanto ficava doido bebia, e quanto mais bebia, mais doido ficava. Não havia nada de glorioso na vida de um escritor nem na vida de um bebedor..."
fechou o livro.
Porra, o bukowski é foda!
bebeu mais um gole. encheu o copo novamente. aumentou o som e ficou dançando nu. jogando vinho nas folhas em branco.

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Um comentário:

Raquel Guedelha disse...

Aposto que era Padre Cícero! hahaha

saudades

gritos a fora