Entre Bares

Boa noite, Bukowski

Encerro mais um Bukowski. O que ele me diz. Gente não presta para quase nada. Mas ainda tem a música clássica, e os horríveis espetáculos humanos. Gente junta é quase sempre horrível, mas ensina algo. E o escritor? Ah, que merda. E os poetas, ah, nem me fale.

O Capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio mostra um Bulk de cara com a morte. Mas ainda vivo e forte. Não com a força de quem pode correr, brigar ou encher a cara a semana inteira. Mas forte em tirar onda da vida, da humanidade. Forte em não se render ao fim. Do tipo que se arrepende, ou se converte, ou se enche de firulas, ou adota uma postura de vovô bonzinho. Não. Ainda há o escritor escroto e sincero por descobrir que não há competição. Que não há luta a não ser consigo mesmo. Que não se pode viver de glórias do passado, que a próxima linha é sempre única.

Quanta gente vive de um poema, ou de um livro que pariu e esquece que tudo é sempre novo. Bukowski sabe que tudo é novo. Que a morte é uma idéia velha e sem importância, porque é certa. Que sentido pode haver em brigar ou se assustar com o óbvio? Que o sucesso não faz a escrita. Ganhar dinheiro depois de velho não o enganou. Como ele mesmo disse, continuava escrevendo a mesma coisa, do mesmo jeito. Se é bom agora, porque não o era no passado. Parece sarcasmo.

Quem ao certo for mesmo escritor – e não há nada de glorioso nisso, a glória é um detalhe dos outros – se sente um pouco mal com Bukowski por ele dizer o que sabemos que é verdade, ainda que não seja agradável saber. Ele sabia que é quase impossível um escritor ler outro. Isso me salvou a alma. Eu não gosto de ler quase ninguém que eu conheço, mas conheço muitos escritores. É pena.

É tudo sempre agora. Ele me diz isso sempre. E o agora é sempre tempo. Tempo, tempo. Só mesmo isso.

“Não estou competindo com ninguém, não tenho ilusões com a imortalidade, não estou nem aí pra ela. É a AÇÃO enquanto você está vivo. [...] A glória é o movimento e a audácia. Que a morte se foda. É hoje e hoje e hoje. Sim”.[Charles Bukowski, pag. 81]

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