2010/12/12


É dezembro. Este mês parece um domingo mais longo. Estranho e belo. Minha rua parece mais bonita. O céu mais largo, de um azul melancólico. Poucos vizinhos. Um clima mais ameno, porque enfim é dezembro e já começa a chover de vez em quando. Na festa de natal vai chover. Sempre chove. Por enquanto fazemos compras e nos preparamos para brindar, pedir desculpas e desejar feliz natal.

Fui cortar os cabelos. Estava bonito, mas estava grande. Envelhecemos à medida que os cabelos grandes passam a incomodar. No salão encontro um amigo de infância. Relembramos algumas picaretagens. Depois me diz que cortar o cabelo é a única maneira de poder sair sem a esposa e o filho. Chamo-o para tomar umas de leve. Ele não está bebendo. Disse que estava com depressão. Deve estar tomando remédio controlado. Pensei comigo que ouvir aquilo de um amigo meio bronco é estranho.

– depressão é mal de intelectual?

Me arrependi de cortar os cabelos em um novo salão. A cabeleireira que sempre corta meu cabelo esta grávida e já parindo. Eu nunca sei explicar como é o corte. Digo que é para diminuir aqui, mas não muito. E deixar um pouco assim na parte de cima. Um monte de imprecisões que ela aprendeu a decodificar. Ela acerta muito mais por conta própria que por causa das explicações. Saí desse novo salão me sentindo um sentinela. Ainda bem que cabelo cresce.

Salão de beleza é espaço de muitos assuntos. Mulheres devem adorar salão também por isso. Eu, enquanto cortava os cabelos, respondi a muitas perguntas sobre minha vida, mais do que eu gostaria de responder. Me sai com respostas vazias. Daí a vizinha foi o assunto. Está passando do ponto. Se impressionou com academia. Eu gosto de mulher feminina, uma mulher com pernas de jogador de futebol e muita força não me agrada. É até bom de olhar, mas o sexo deve ser complicado. Bem diferente de elásticas longilíneas.

Vou embora do salão, parecendo um soldado. Meu amigo de infância ficou um pouco mais, aproveitando a folga da família. De casamento só entende quem casa [ou descasa, como me disse um amigo]. Eu por aqui vou indo. Quero uma casa e minha companheira. Se um dia ficar feio eu paro de chamar de casamento. O nome faz uma grande diferença sobre as coisas. Na minha rua cada família prepara uma árvore natal. A tarde cai e a noite começa a abrir os olhos, um pouco mais iluminada.

Tem chovido e os dias ficam um pouco mais melancólicos e bonitos. Há pequenas lâmpadas enfeitando as árvores. O céu esta cada dia mais bonito. Devia ser assim o ano todo. Uns viajam de volta. Outros vão em viagem. Estou aqui até que o peru descongele e vire um prato e um símbolo em cima da mesa. Depois blem-blem Belém Belém lá vou eu. Acima de nossas ruas o céu é mesmo. Datas e feriados se revezam em nosso cansaço. É preciso parar e ver o dia passar sem muita pressa, nem afazeres.

– senta aqui meu amor. Vamos ver o dia se perder, porque o ano já se foi.


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